Do
ponto de vista pessoal, perdi o meu Pai (Julho.1991) e a minha Mãe
(Fevereiro.1993); e perdi dois bons amigos e colegas de longa data (que
trabalhavam como eu no Reactor do Laboratório Nuclear de Sacavém): João Batista
Menezes (Julho.1997) e Carlos Ramalho Carlos (Dezembro.1998). Foram perdas
dolorosas, por razões diferentes, de que me refiz dificilmente.
Profissionalmente,
comecei por sentir a chamada “Crise de 1992-1994” no Laboratório Nuclear de
Sacavém, descrita no livro de Jaime da Costa Oliveira “Memórias para a História de um Laboratório
do Estado” (págs. 114 a 128). Cada investigador viveu-a a seu modo e muitos
remaram contra a maré resultante da deterioração da relação de confiança entre
o ministro da tutela (Mira Amaral) e o presidente da instituição (Veiga Simão).
Resumindo, o propósito do ministro era “desembaraçar-se de Sacavém”… Pareceu-me
então ser necessário ir à luta, “avisar a malta”. Procurei
apoio em jornais de referência, o qual me foi generosamente dado pelo saudoso
Senhor Coimbra (Expresso) e por José Vítor Malheiros (Público). São dessa
altura os artigos seguintes: A nossa
opção nuclear. Expresso - n.º 1051, 19.Dezembro.1992; Investigação, visão de Estado e o futuro do ICEN. Público, n.º
1080, 18.Fevereiro.1993; O Estado e o
nuclear. Expresso / Economia, n.º 1080, 10.Julho.1993; Sem ciência não há tecnologia. Expresso / Economia, n.º 1066,
03.Abril.1993; O adeus ao reactor
português? Expresso, n.º 1111, 12.Fevereiro.1994. Julgo
que esta iniciativa foi um dos contributos úteis para a resolução do problema,
a qual se veio a concretizar em 01.Janeiro.1995 com a criação do Instituto
Tecnológico e Nuclear (nova designação dada ao Laboratório Nuclear de Sacavém).
O
que se passou em Sacavém entre 1995 e 2000 encontra-se também descrito no
citado livro de Jaime da Costa Oliveira em “A mutação de 1995” (págs. 129 a
140). Após a fase de instalação do ITN, foi designado o novo presidente da
instituição (José Carvalho Soares), cuja tomada de posse ocorreu em 12.Janeiro.1996. Posso
testemunhar, por experiência própria, "as dificuldades de relacionamento do Conselho Directivo do ITN
com a maioria dos investigadores”. Bastará dizer que cheguei a
sentir-me ostracizado por alguns colegas do Reactor devido ao meu desalinhamento…
Para
ultrapassar esta desagradável situação, continuei a via que já vinha prosseguindo:
escrita de relatórios em Português (sobre matérias relevantes no que se refere
à utilização de reactores de investigação) que pudessem ser úteis no futuro a
jovens investigadores, após a minha aposentação. Foi assim que redigi
relatórios como: Avaliação de doses
absorvidas em experiências de irradiação em reactores nucleares, INETI/DEEN-R-94/34; Activação de amostras em reactores nucleares, ITN/DEEN-R-95/39; Cálculo de doses absorvidas por amostras irradiadas em espectros de
neutrões rápidos de reactores nucleares, ITN/RPI-R-96/42; Produção de radionuclidos no RPI para
aplicações médicas (4 relatórios entre 1998 e 1999). Há pouco
tempo, senti-me completamente recompensado por este trabalho quando encontrei, por mero acaso, um
desses jovens investigadores (NB) na Repartição de Finanças do meu
Bairro e ele me disse espontaneamente: Sabe,
aqueles seus relatórios de revisão, em
Português, têm-me sido extremamente úteis!
A
outra via que segui para ultrapassar a situação de quase isolamento em que me
sentia no meu departamento (Reactor) foi a de procurar dois colegas
(José Francisco Salgado e Isabel Ferro Gonçalves) de outro departamento
(Física) e propor-lhes um trabalho de colaboração. Esse trabalho visava a quantificação
do fenómeno de neutron self-shielding
(autoprotecção neutrónica) que se manifesta em Física de Reactores Nucleares em
inúmeras experiências de irradiação de amostras. Os resultados dessa cooperação
foram publicados entre 2001 e 2004 e estão disponíveis na internet (AQUI). Observando em
particular este LINK, o leitor poderá constatar que os resultados que obtivemos têm aceitação
internacional generalizada e consistente no tempo, até hoje.
Tal como diz o provérbio popular, há males que vêm por bem…
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