quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Exemplo de colaboração científica à distância…

A colaboração científica pode acontecer actualmente à distância (de um clique) entre pessoas que não se conhecem. Não foi assim sempre… só foi possível com a invenção da WEB (ver  AQUI, AQUI e AQUI).  
Neste post apresenta-se um exemplo de colaboração à distância com o Professor Doutor Frederico Genezini (IPEN/Universidade de São Paulo) sobre o fenómeno de interferência de cisão nuclear em análise por activação com neutrões (ver AQUI). 


Esquema ilustrativo da interferência de cisão nuclear
na análise de Mo numa amostra contendo urânio.

A colaboração começou com um inesperado email chegado do outro lado do Atlântico em Fevereiro de 2014:

28.Fev.2014
Caro Eduardo Martinho
Tomei a liberdade de escrever para você pois sei que é um especialista no assunto. Como você sabe estamos medindo alguns fatores de interferência de produtos de fissão no nosso reator (IEA R1 - IPEN, Brasil), mas estamos encontrando certa dificuldade no Ce-141, Ce-143 e Zr-95 onde o fator de interferência calculado (via medida de fluxos) fica um pouco acima do medido (via padrões). Já vi menções sobre isso recomendando o uso do resultado experimental em detrimento ao calculado mas ninguém explica exatamente a origem disso. Você sabe ou tem alguma literatura a esse respeito?

28.Fev.2014
Caro Frederico Genezini
Embora esteja já aposentado desde 2002, e portanto afastado destas "lides", recordo-me de ter feito um trabalho em 1998 sobre a questão do zircónio.
Amanhã vou tentar encontrar a versão digital do relatório e depois entro em contacto consigo.

01.Mar.2014
Bom dia Frederico
Contrariamente ao que supunha, não encontrei a versão digital do meu relatório (Nota 1). Em consequência, tive de produzir um documento PDF a partir do original em papel.
Abordo neste trabalho precisamente a questão que vos interessa: a discrepância entre valores calculados e valores experimentais. Admito como verosímil a hipótese (matéria a pesquisar!) de algum (muito?) do urânio puro que se encontra no mercado para experiências laboratoriais não ser urânio natural, mas sim urânio empobrecido! Em química, isto não cria problemas, mas em física nuclear é muito diferente...
É por esta razão que lhe envio também um artigo publicado em 1999 na revista JRNC (Nota 2), em que o método descrito permite determinar a abundância de U-235 em amostras de urânio a partir da interferência de cisão do molibdénio.
Bom trabalho! Gostaria de saber oportunamente o resultado das vossas pesquisas.

03.Mar.2014
Caro Frederico
Como tinha prometido ontem, em anexo segue uma versão melhorada do documento PDF sobre a AAN de zircónio
Para o Ce-141 e Ce-143, são válidas as observações feitas para o Zr-95, nomeadamente a questão da abundância do urânio utilizado nas determinações experimentais (urânio eventualmente empobrecido...) e as condições experimentais adoptadas nas irradiações  (razão entre fluxo de neutrões epitérmicos e o fluxo de neutrões térmicos).

03.Mar.2014
Caro Martinho
Desculpe a demora mas o feriado de carnaval aqui é um pouco longo. Muito obrigado pela sua pronta resposta e sua cooperação. Vou ler o material que você me enviou. Estamos usando o mesmo padrão de urânio que usamos no Mo e Nd onde obtivemos bons resultados. Mas como disse vou ler com detalhes para ver se entendo melhor seus comentários.

18.Dez.2014
Os melhores votos de Fim-de-Ano, com cordiais saudações.
Eduardo Martinho
PS - Como está a pesquisa sobre as interferências de cisão?

18.Dez.2014
Caro Martinho,
Desejo a você e aos seus também tudo de bom. 
Nosso trabalho foi concluído e deu origem a uma dissertação que te envio em anexo (Nota 3).
Aproveito a oportunidade para convidá-lo para o International Nuclear Atlantic Conference 2015, congresso que estou organizando aqui em São Paulo-Brasil entre 04 e 08 de outubro de 2015. Seria uma grande honra contar com sua presença.

18.Dez.2014
Caro Frederico,
Obrigado pelo envio da dissertação da Iberê.
Agradeço também o convite para o congresso International Nuclear Atlantic Conference 2015, mas nesta fase da minha vida está fora de questão a possibilidade de o aceitar.
Actualmente, estou escrevendo artigos de divulgação científica para um jornal online, que vou inserindo no meu blog pessoal.

Nota 1
Eduardo Martinho
Análise por activação com neutrões de zircónio na presença de urânio e a correcção da interferência de cisão. 
Relatório ITN/RPI-R-98/51

Nota 2
Eduardo Martinho 
Determination of the 235U abundance in uranium by neutron activation on the basis of the molybdenum fission interference.  
Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry 241 (1999) 271

Nota 3
Iberê Souza Ribeiro Júnior
Determinação de Fatores de Interferência de Produtos de Fissão do Urânio na Análise por Ativação Neutrônica
Dissertação de Mestrado em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear – Aplicações, IPEN, Universidade de São Paulo, Brasil, 2014. (Dissertação AQUI)
Observação
Nesta dissertação são citados os trabalhos (1) e (2) acima e ainda um outro de 1991 sobre o mesmo tema:
E. Martinho, M.A. Gouveia, M.I. Prudêncio, M.F. Reis, J.M.P. Cabral: Factor for correcting the ruthenium interference in instrumental neutron activation analysis of barium in uraniferous samples. Applied Radiation and Isotopes 42 (1991) 1067

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