Todo o discurso político do poder é o da divisão e o
apelo à luta de classes, grupos, idades, profissões, cada um contra o outro, mesmo
quando a condição de cada um é a mesma do outro. Os que tinham toda a razão
para fazer greve voltam-se contra os que fazem greve. Os jovens são instigados
a voltarem-se contra os velhos, pensionistas e reformados. Os que têm alguns
meios de vida desdenham dos que recebem subsídios de desemprego. Os que ainda
não viram a sua profissão como alvo apontam a do outro como o alvo que deveria
ser o seguinte. Polícias olham para os militares, os militares para os
polícias. Trabalhadores do sector privado culpam os funcionários públicos, os
funcionários públicos fecham-se com medo do desemprego. Os que ganham 900 euros
apontam o dedo aos que ganham 1000 euros. Uma inveja social mesquinha e
corrosiva perpassa tudo e todos e cada um defende o seu território, dando razão
ao Governo, que aponta toda a contestação como sendo “corporativa”. Só a minha
“corporação” é que não é corporativa, todas as outras são-no. O vírus da
intriga e da divisão sempre foi a melhor garantia da intangibilidade do poder.
E não é difícil em tempos de crise propagar estas epidemias, mas é perigoso.
Porém, o medo ajuda, ajuda muito. (Texto completo aqui)
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