quarta-feira, 28 de novembro de 2012

In Memoriam José Afonso (1929-1987)

25 anos passaram desde que José Afonso morreu.


O seu instrumento principal era a voz inesquecível 
a extraordinária invenção musical e poética.
António Pinho Vargas
http://www.aja.pt/pinho-vargas-sobre-jose-afonso/


Vampiros

No céu cinzento 
Sob o astro mudo 
Batendo as asas 
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo 
Chupar o sangue 
Fresco da manada 

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo 
E lhes franqueia 
As portas à chegada 
Eles comem tudo 
Eles comem tudo 
Eles comem tudo 
E não deixam nada 

A toda a parte 
Chegam os vampiros 
Poisam nos prédios 
Poisam nas calçadas 
Trazem no ventre 
Despojos antigos 
Mas nada os prende 
Às vidas acabadas 

São os mordomos
Do universo todo 
Senhores à força 
Mandadores sem lei 
Enchem as tulhas 
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia 
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

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