É corrente dizer que alguém “está no seu elemento“ quando
essa pessoa se sente bem com o que faz e com o enquadramento em que desenvolve
a sua actividade, seja ela profissional ou outra.
Curiosamente esta noção foi recentemente aprofundada por
Ken Robinson num livro publicado em 2009. Segundo este autor, o conceito de
Elemento envolve a «circunstância em que
se reúnem as coisas que adoramos fazer e as coisas em que somos bons». Para
Ken Robinson, todos nascemos com capacidades extraordinárias, portanto é
essencial alimentar o talento individual e “proporcionar ambientes – nas nossas
escolas, nos nossos locais de trabalho… – onde cada um se sinta inspirado a
crescer criativamente”.
A vida de cada um de nós é mais gratificante quando temos
a possibilidade de fazer com paixão aquilo para que somos particularmente
talentosos. Mas nem sempre isto acontece ou raramente acontece. Conheço, por
exemplo, um bancário que gostaria de ter sido, e poderia ter sido, animador
cultural… Todavia, também acontecem acasos felizes de sinal contrário. Foi o
meu caso, o que me leva a recuar no tempo.
O neutrão foi descoberto em Inglaterra quatro anos antes
de eu nascer. Quando a cisão nuclear foi descoberta na Alemanha, tinha eu pouco
mais de dois anos. O primeiro reactor nuclear funcionou nos Estados Unidos
da América três anos depois.
Nessa altura eu vivia no Ribatejo, mais precisamente na
Chamusca, nascido de uma família humilde. É claro que nesse tempo eu nunca tinha
ouvido falar de neutrões, de cisão nuclear ou de reactores nucleares. Além do
mais, a vida não era fácil: por exemplo, o racionamento do açúcar obrigava-nos
a adoçar o café com rebuçados ou mel, e no inverno aquecíamo-nos junto a um
fogareiro alimentado com serradura.
Nestas circunstâncias, eu nunca poderia ter imaginado que
a minha actividade futura seria precisamente em domínios em que o neutrão, a
cisão nuclear e os reactores nucleares iam estar sempre presentes. Tudo se veio
a revelar no Laboratório Nuclear de Sacavém, onde comecei a trabalhar logo após
ter terminado o curso na Faculdade de Ciências de Lisboa. A finalizar uma
carreira de 40 anos, tive até a sorte de participar numa descoberta relevante
no âmbito da Física de Neutrões, que tem sido amplamente citada a nível
internacional.
Teria eu uns 13 ou 14 anos, quando alguém (certamente com
razão para estar indisposto comigo) me gritou: Tu nunca serás nada na
vida! Todavia, como a vida é feita de acasos, aconteceu tudo o que era necessário
acontecer para que aquela “profecia” não se concretizasse. E assim, contra tudo
o que era previsível na minha infância, acabei por encontrar no neutrão o meu
improvável Elemento. Não desista o leitor de procurar o seu, contra todas as
dificuldades.
Sem comentários:
Enviar um comentário