O MIRANTE, 01.Nov..2012 (aqui)
Os instrumentos com que se faziam as contas no Laboratório Nuclear de Sacavém evoluíram muito ao longo do tempo, como é natural. Pensando nisso, parece-me instrutivo recordar os meios de cálculo de que dispuseram os investigadores do Reactor Português de Investigação (RPI) durante o último meio século. Para quem viveu a experiência por dentro, ainda é de espantar o inimaginável caminho percorrido.
Os instrumentos com que se faziam as contas no Laboratório Nuclear de Sacavém evoluíram muito ao longo do tempo, como é natural. Pensando nisso, parece-me instrutivo recordar os meios de cálculo de que dispuseram os investigadores do Reactor Português de Investigação (RPI) durante o último meio século. Para quem viveu a experiência por dentro, ainda é de espantar o inimaginável caminho percorrido.
Se hoje perguntarmos a um estudante universitário se sabe
o que é uma “régua de cálculo”
e como se utiliza, porventura poucos responderão afirmativamente. Todavia, na
primeira metade da década de 1960, foi com réguas de cálculo que foi feita
grande parte dos numerosos e fastidiosos cálculos relacionados com a calibração
inicial do RPI.
Nos casos em que era necessário assegurar uma maior
exactidão dos resultados, era utilizada uma “máquina de calcular Monroe”. Toda ela era lentidão, movimento e
ruído quando se lhe pedia uma simples divisão. Se o leitor puder, pesquise “Monroe
calculator IQ-213” no YouTube para compreender exactamente o que quero dizer (ver aqui).
Para calcular uma exponencial ou uma função
trigonométrica, recorria-se a espessos livros contendo infindáveis tabelas de valores
a intervalos regulares, que quase sempre era preciso interpolar. Ainda não
havia as agora familiares “calculadoras
científicas de bolso” que fariam imediatamente estas
operações.
Na segunda metade da década de 1960, passámos a ter
acesso ao “computador IBM-1620” do
Centro de Cálculo Científico da Fundação Calouste Gulbenkian. Neste caso, era
necessário escrever o programa em linguagem Fortran, perfurar os cartões e
levá-los numa carrinha até à Avenida D. João V (Lisboa) no dia e hora
aprazados. Aí, o operador dava-os a “mastigar” à máquina para editar o
algoritmo programado. Às vezes a máquina engasgava-se porque os cartões tinham
pequenas dobras nos cantos...
No início da década de 1980, foi adquirido um “computador PDP-15”. A sua utilização
incidiu sobre a resolução de problemas como a evolução temporal da potência
residual do RPI e o cálculo do consumo do combustível. Entretanto passámos a
dispor de um computador da Norsk-Data, a que se seguiram outros mais actuais e
mais potentes. Tudo se passou muito rapidamente nas últimas três décadas, fruto
da evolução da tecnologia que se seguiu à descoberta do transístor em 1947 e do
circuito integrado em 1958.
A partir de meados de 1990 começou a era dos “computadores
pessoais”. Agora, os cálculos mais complexos referentes ao RPI estão comodamente
ao alcance dos investigadores a partir de um PC instalado no gabinete ou de um
computador portátil.
Vai longe o tempo da régua de cálculo e da velhinha
Monroe!
PS – Há quem justifique tudo e mais alguma coisa com a expressão
“foi um erro informático”… Não aceite esta desculpa. Os computadores só fazem
aquilo que as pessoas lhes “mandam” fazer.
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