A porta era a fronteira entre o azul e a sombra. Os pés esticavam mais e mais… quase a tocar o infinito. Havia naquele balançar um embalo silencioso… o corpo para cá… para lá… os limites da cal abraçando o movimento. O corpo dormente… o olhar hipnotizado… quantas viagens?... quantos sonhos voados?… quantas estradas percorridas? Sair do refúgio no regaço cheiroso dos suspiros…
Ousar imprimir outro ritmo… a
luz… a noite… a luz… a noite… o corpo sempre a crescer… os dedos apontando o
céu… Ecos de madeira crepitando no negro do fogão… o cheiro a laranja no ar… o
cheiro a laranja no corpo… o açúcar lambido dos dedos, gulosamente… a saia
voando como uma labareda… para cá… para lá… O sonho de - quem sabe? - um dia … estar ali e já não estar… ter
ficado apenas aquela corda, e um pedaço de madeira… a alma de uma árvore ali
suspensa e aquela toada… a luz… a noite… a luz… a noite…
A paz inalada e branca no
corpo tisnado e sujo… no corpo cansado da terra… Os pés esticando sempre mais,
num desafio de voo… o desejo de ficar assim para sempre… para sempre a
idealizar o mergulho no mundo para lá daquela porta…
Nas traves do tecto baixo a
avó pendurara um baloiço…
Pela porta aberta só os anjos
podiam ver umas pernas que vogavam para cá… para lá… e aquela saia esvoaçante
era a brisa dos seus dias.
Helena Martinho
03.Novembro.2017
ADOREI...voltei aos meus tempos de adolescentes em que ia à Chamusca...também tu LENA...me fizeste voar até lá!!!BEIJÃO!!!
ResponderEliminarGostei. Um beijo para a minha prima, que não conheço. Gosto dos teus escritos.
ResponderEliminarLindo! Era isto debaixo do telheiro da casa da avó. Eram 2 os baloiços, e só um desejo,... quem conseguia levantar as telhas com os pés... Um abraço
ResponderEliminarLindo, adorei!...
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