Para além da impreparação cultural do povo português, parte significativa da responsabilidade pela situação da arbitragem está na importância excessiva atribuída ao futebol pelos órgãos de comunicação, em especial por vários canais de televisão, onde discorrem inúmeros jornalistas e comentadores desportivos durante tempos infindos. Antes do 25 de Abril dizia-se que Portugal era o país dos três efes: Fátima, Futebol e Fado. Actualmente, os três efes têm outro significado: Futebol, Futebol e Futebol. É espantoso o número de horas que a rádio oficial dedica ao futebol, assim como vários canais de televisão com “mesas redondas” mais ou menos concorridas, algumas abrilhantadas por comentadores que funcionam como representantes dos maiores clubes (deveria haver, aliás, uma bandeirinha à frente de cada um para os identificar, porque nem todos os telespectadores são connaisseurs das questões futebolísticas).
Numa das mesas-redondas realizada há dias, fiquei surpreendido e chocado ao ouvir o director de um jornal nacional de referência (que em geral faz comentário político...) ao dizer convictamente que 20 (vinte!) penáltis tinham sido negados ao F.C.Porto! Enquanto isso, como é óbvio, os seus comparsas reclamavam estatísticas diferentes... As discussões são feitas aos berros, invectivando-se os “adversários”, classificando-os de mentirosos, invocando exclamações desbragadas do tipo “bardamerda para os que não são sportinguistas”, entre muitos outros mimos. Quem quiser confirmar, basta ir ao Youtube e pesquisar “comentadores de futebol”.
Com tais exemplos de gente bem-falante com aceitação social, não
surpreende que os árbitros sejam vítimas indefesas dos desgostos clubísticos de pessoas com tendência para agir impulsivamente, sem pensar na consequência dos seus actos.
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