...e, aparentemente, há que recear o pior
(mais desigualdades, maior desemprego, ...)
(mais desigualdades, maior desemprego, ...)
A Quarta Revolução dos semideuses
Filipe Duarte Santos (Público online, 27.Set.2016)
[...] Na Primeira Revolução Industrial a maior eficiência no aproveitamento da força motora da água e a invenção da máquina a vapor transformou profundamente a utilização da energia. A Segunda Revolução Industrial teve início na segunda metade do século XIX e apoiou-se no uso da eletricidade o que permitiu desenvolver as cadeias de produção nas fábricas. Foi nesse período que se fizeram invenções tecnológicas notáveis baseadas na ciência moderna, tais como o motor de combustão interna, telefone, fotografia, cinema, lâmpada elétrica, avião, televisão e antibióticos. A Terceira [Revolução Industrial] começou na década de 1960, baseou-se na chamada Revolução Digital, no contínuo e acelerado desenvolvimento das TIC (tecnologias da informação e computação), e permitiu aumentar a automatização da produção nos mais diversos domínios da atividade económica. Finalmente a Quarta Revolução Industrial é uma extensão da terceira mas distingue-se dela em termos de novos horizontes programáticos de automatização, robotização, interoperabilidade, uso de sistemas inteligentes de assistência técnica, decisão descentralizada e troca de informação nas tecnologias de produção de bens e serviços. Os principais domínios de atividade e tecnologias emergentes que irão suportar a Quarta Revolução estão as TIC, inteligência artificial, robótica, internet das coisas, big data, impressão 3D, blockchain, automatização dos veículos automóveis, agricultura de precisão, nanotecnologia, engenharia genética e a biologia sintética. [...]
Os que vão
beneficiar mais das aplicações dos robots e da inteligência artificial vão ser
os que têm a capacidade de investir nas tecnologias emergentes, ou seja, os
detentores de capital. Devido às suas características intrínsecas a Quarta
Revolução Industrial promove a substituição do trabalho pelo capital agravando
ainda mais a tendência das últimas décadas de aumento das desigualdades. Os
empresários que descobrem um produto ou serviço de sucesso enriquecem
rapidamente porque com as novas tecnologias os custos marginais por unidade de
produção tendem para valores baixos ou próximos de zero e os rendimentos de
escala são elevados. Atualmente as empresas procuram avidamente as novas
tecnologias porque lhes permitem aumentar a produtividade e baixar os custos
marginais de produção e distribuição de bens e serviços, conseguindo assim,
reduzir os preços, conquistar mais consumidores e aumentar os lucros. O papel
do emprego na distribuição da riqueza, que se consolidou no último século, pode
ficar comprometido. As implicações socias e económicas da Quarta Revolução
Industrial têm um alto risco de desestabilizar profundamente a sociedade
contemporânea, tanto nos países com economias avançadas como no resto do mundo.
A probabilidade de tal suceder é muito elevada porque as forças motoras da
Quarta Revolução Industrial são as mesmas que dinamizam o atual sistema
económico e financeiro. Será provavelmente necessário reformar os conceitos de
trabalho, emprego e rendimento. Provavelmente estamos mesmo num tempo de
grandes promessas e perigos que os semideuses controlam.
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