Fausto Amaro
(Público, 11.Ago.2016)
[...] Uma das críticas, geralmente formuladas pelos
alunos, quer ao nível do secundário, quer do universitário, é que alguns
docentes mostram insegurança sobre os conhecimentos que transmitem ou no
esclarecimento das dúvidas. Mas os alunos apreciam a honestidade intelectual e
prefeririam que em caso de dúvida o professor admitisse que não tem a resposta e
que a iria procurar, talvez até com a ajuda dos alunos. Estes incidentes podem
até ajudar a desenvolver o sentido crítico dos alunos e a desenvolver atitudes
de respeito pelos outros. [...]
* * *
Não posso estar mais de acordo. Há quase
20 anos publiquei um artigo no EXPRESSO (Ensino e realidade quotidiana, 01.Novembro.1996)
em que dizia o seguinte:
[...] É certo que o professor pode encontrar, na pedagogia, ensinamentos no sentido de tornar mais eficaz a sua aptidão para comunicar, e também é verdade que a competência específica do professor na disciplina ministrada, assim como a sua cultura geral, contribuem muito para o enriquecimento da relação professor-aluno. Todavia, estas são apenas condições necessárias, que não suficientes para o objectivo pretendido.
Há qualquer coisa
de indefinível, que “não vem nos livros”
[como dizia Rómulo de Carvalho], que faz com que os bons professores – aqueles
que marcam os alunos e são recordados com carinho – se destaquem dos outros.
Serão, em geral, as qualidades humanas? o perfil físico? o tom de voz? a
experiência? o empenhamento? a imaginação? a disponibilidade? o jeito para
dialogar? a capacidade de fomentar e gerir cumplicidades? será uma vocação
natural? Não sei. Sei apenas que dos professores bem se poderia dizer que «são
muitos os chamados... mas poucos os escolhidos». [...]
Aquele diálogo fez-me pensar, ainda, na necessidade de encarar com serenidade as perguntas dos alunos, por mais desconcertantes que elas sejam, e de procurar dar-lhes resposta adequada, em cada caso e consoante as circunstâncias. Ora, isto nem sempre se verifica, basicamente por duas ordens de razões: porque a resposta não é fácil ou imediata, ou então porque o professor tem dificuldade em admitir que não está habilitado a responder. Quando tal acontece, não raras vezes há a tentação de “despachar” o aluno com uma resposta qualquer.
[...] É certo que o professor pode encontrar, na pedagogia, ensinamentos no sentido de tornar mais eficaz a sua aptidão para comunicar, e também é verdade que a competência específica do professor na disciplina ministrada, assim como a sua cultura geral, contribuem muito para o enriquecimento da relação professor-aluno. Todavia, estas são apenas condições necessárias, que não suficientes para o objectivo pretendido.
Aquele diálogo fez-me pensar, ainda, na necessidade de encarar com serenidade as perguntas dos alunos, por mais desconcertantes que elas sejam, e de procurar dar-lhes resposta adequada, em cada caso e consoante as circunstâncias. Ora, isto nem sempre se verifica, basicamente por duas ordens de razões: porque a resposta não é fácil ou imediata, ou então porque o professor tem dificuldade em admitir que não está habilitado a responder. Quando tal acontece, não raras vezes há a tentação de “despachar” o aluno com uma resposta qualquer.
Nesta matéria, há que reconhecer dois
factos essenciais. O primeiro, é que é fácil, a um jovem curioso, fazer
perguntas difíceis. O segundo, é que um professor não é uma pessoa obrigada a
saber tudo (ninguém sabe tudo!). Entendido isto, por qualquer das partes, a
relação professor-aluno pode ganhar a dimensão desejável, assente numa base de
confiança recíproca. Se um professor não está, de momento, em condições de responder
a uma dada pergunta, deve simplesmente admitir isso mesmo, procurar informar-se
e, depois, satisfazer a curiosidade do aluno. Qualquer jovem compreende, e
respeita, uma atitude de humildade e de honestidade intelectual. O que não
aceita, nem desculpa, no momento ou a prazo, é que lhe dêem respostas
apressadas ou tolas.
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