O destaque de 1.ª página do
PÚBLICO de hoje – replicado já por outros órgãos de comunicação social – deve
preocupar os bragantinos e, porventura, não só. Esta notícia leva-me a retomar
aqui algumas considerações já expendidas antes neste blogue.
Sem exagerar nos detalhes
científicos, poderá ser útil dar a conhecer a origem do radão, bem como as suas propriedades características, para o poder
“combater” com melhor conhecimento de causa.
1. Nesta problemática do
radão, um elemento químico de referência é o URÂNIO, porque é ele a origem
primeira (o “pai”, digamos assim) de uma série de espécies atómicas
radioactivas, onde se inclui a variedade de RADÃO que é objecto de estudo pelos
especialistas em protecção contra radiações.
2. O urânio existe na
Natureza um pouco por todo o lado e, em particular, em zonas geológicas de tipo
granítico. A variedade de urânio mais abundante é uma espécie atómica que se
designa por urânio-238, a qual constitui mais de 99 por cento do urânio
natural. O urânio-238 é radioactivo, o que significa que emite, natural e
espontaneamente, um certo tipo de radiação.
3. Em consequência da
emissão de radiação, o urânio-238 (U-238) transforma-se noutra espécie atómica
radioactiva, o tório-234 (Th-234). O tório-234, por sua vez, também é
radioactivo e, portanto, também ele emite radiação e se transforma noutra
espécie atómica radioactiva, etc.
4. Assim, o urânio-238 dá
origem a uma família de espécies atómicas radioactivas, que começa no
urânio-238 e acaba no chumbo-206 (Pb-206), que é estável. A família radioactiva
compreende, sucessivamente, o urânio-238, o tório-234, o protactínio-234
(Pa-234), o urânio-234 (U-234), o tório-230 (Th-230), o rádio-226 (Ra-226), o
RADÃO-222 (Rn-222), o polónio-218 (Po-288), etc. e, finalmente, o chumbo-206.
5. Ora, o radão-222,
descendente directo do rádio-226, é que é o “famoso” radão que constitui motivo
de apreensão. Pode perguntar-se: porquê o radão-222, em especial, e não as
outras espécies atómicas radioactivas que fazem parte da família do urânio-238?
No essencial, a resposta é a seguinte: o radão-222 é a única espécie atómica
que é um GÁS (os restantes são sólidos). Em consequência, o risco para a saúde
das pessoas decorre do facto de o radão-222 (que é um gás radioactivo,
insiste-se) poder ser inalado e alojar-se nos pulmões. Acresce que a radiação
emitida pelo radão-222 é constituída por partículas alfa, que têm um efeito
localizado gravoso.
Dada esta explicação,
podemos agora, sem perda de rigor, adoptar a palavra “radão” para significar a
espécie atómica radioactiva designada por “radão-222”. Por outro lado, é de
admitir que o leitor esteja, nesta altura, em condições de compreender sem dificuldade
as seguintes afirmações:
(A) O aparecimento de
radão, num determinado local, está relacionado com a existência de urânio nesse
local, o qual, por sua vez, aparece associado, em particular, a zonas
geológicas de tipo granítico ou à utilização de materiais graníticos.
(B) Se uma casa for
construída numa zona granítica, ou se as suas fundações forem em granito, ou se
as paredes forem em granito, ou se for utilizada areia granítica nas fundações
ou sob a forma de argamassa, então é muito provável que o radão apareça no
interior dessa casa em concentrações mais ou menos elevadas, sobretudo ao nível
de caves ou do piso térreo.
(C) O radão constitui um
factor de risco para a saúde porque é um gás radioactivo, e porque, se existir
em concentrações elevadas no ar que respiramos, pode ser nocivo para os
pulmões.
Finalmente, uma recomendação de carácter prático. Se o leitor tiver uma casa que corresponda à descrição feita aqui, há uma medida preventiva simples que se impõe tomar: areje a casa, areje a casa o mais possível para a “libertar” do radão. Abra as janelas, faça circular o ar, deixe que o ar do exterior substitua o ar interior de sua casa. Com a simples renovação do ar, consegue-se normalmente fazer baixar a concentração de radão para níveis razoáveis. É claro que esta é uma medida preventiva de efeito imediato, mas ela não exclui, obviamente, o interesse de um aconselhamento específico junto de quem possa prestar apoio técnico-científico apropriado.
Consultar, por exemplo: http://www.itn.pt/sec/psr/pt_psr_ra.htm.
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