Numa das muitas esperas desesperantes em filas compactas de um tráfego sem solução, dei comigo a pensar o que poderia acontecer se se perguntasse a várias pessoas o que lhes sugeria a expressão “Que buraco!”.
As respostas poderiam ser como segue:
O invisual: Caí num há dias.
O condutor de táxi: Lá se foi um pneu pró galheiro.
O prudente, bem-falante: Depende do contexto.
O pessimista: Tudo.
A mãe de família: Parece que andam às dentadas às meias.
O consciencioso, envolvido num desfalque: Hei-de tapá-lo.
O sapateiro: Quanto maior, melhor.
O reitor da Universidade: Como é que vamos pagar o subsídio de Natal aos professores?
O humorista: Esta não teve piada.
O pegador de touros: No que eu me meti.
O munícipe: Com estes vereadores, não vamos longe.
O alfarrabista: Malditas traças.
O ecologista: Ozono.
O astrofísico: Negro.
O jovem fogoso: Não me fale nisso.
O militante da Oposição: 200 milhões de contos.
O ministro das Finanças: Orçamento rectificativo.
O poeta popular: Rima com Cavaco.
Compreende-se a diversidade de “opiniões”. Cada um tende a tratar a informação de acordo com a sua perspectiva. No fundo, eu só estava irritado com o trânsito!
Texto publicado no jornal O MIRANTE, 30.Novembro.1991
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