Teresa de Sousa (Público, 17.Junho.2017)
No dia 11 de Janeiro de 1996, 61 chefes de Estado e de
Governo reuniram-se na Notre Dame, em Paris, para prestar a última homenagem a
François Mitterrand. A figura de Helmut Kohl, o chanceler da Alemanha,
destacava-se inevitavelmente entre os convidados. Imóvel, as lágrimas caíam-lhe
pelo rosto. Perdia um amigo, um homem excepcional que partilhou com ele os
infortúnios da História europeia mas também a capacidade de a salvar do seu
próprio passado. Ambos tinham vivido a guerra. O Presidente francês, mais
velho, vivera os terríveis dilemas morais da mais envergonhada das derrotas.
Foi prisioneiro de guerra. Entrou na Resistência. O mais novo conheceu a
tragédia da guerra na sua cidade natal, Ludwigshafen, na Renânia, mil vezes
bombardeada pelos aviões aliados, numa família modesta de católicos fervorosos
e pouco amigos de Hitler. Foi recrutado aos 15 anos para o corpo de bombeiros.
Viu o seu irmão mais velho morrer na frente de batalha da Normandia, em 1944.
Quando quis dar o seu nome, Walter, ao seu filho mais velho, a mãe avisou-o de
que estava a tentar o destino. “Mãe, prometo-lhe que ele não morrerá numa
guerra entre Estados europeus.” A paz transformou-se no objectivo de uma longa
vida política. Comungou com Mitterrand a convicção profunda de que “o
nacionalismo é a guerra”. Nesse dia, em Paris, despedia-se de um amigo com quem
garantiu que a Alemanha unificada continuaria a fazer parte de uma Europa
unificada: o seu grande sonho político, que nunca abandonou.
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