Miguel Esteves Cardoso
Público, 23.Abril.2017
Ninguém sabe ao certo se
Einstein alguma vez disse que “tudo deveria ser o mais simples possível – mas
não mais simples do que isso.”
A frase não é um elogio da
simplicidade. A simplicidade, só por si, não nos diz nada. É um erro procurá-la
só porque a nossa preguiça e pressa já nos predispõem para ela.
No frenesi da Internet há
pessoas que se divertem a fingir que conseguem explicar coisas complicadas em
60 segundos ou em 12 frases curtas. Só quando percebemos do assunto é que vemos
quando alguém está a fingir que percebe.
Quando gostamos muito de
uma coisa – pode ser bridge, química, filosofia, moral – apetece-nos continuar
a estudá-la até mais não. Geralmente quanto mais sabemos sobre uma coisa melhor
ideia temos do pouco que sabemos (ou podemos saber) sobre ela. Esta tomada de
consciência, que é mais alegre do que triste, não é parecida com a ignorância.
Uma coisa é o sábio que se recusa a responder a uma pergunta porque ela é
difícil demais; outra é o silêncio de quem não faz a mais pequena ideia.
A frase de Einstein revela
impaciência. É o que se responde a alguém que quer obter, de uma maneira fácil
e rápida, aquilo que levou muito tempo e muito trabalho a estudar. Revela
também agressividade: a agressividade da pessoa inteligente que é chateada no
sentido de usar essa inteligência para simplificar coisas naturalmente
difíceis, de maneira a poderem ser entendidas por pessoas apressadas mas
gananciosas a quem convém apresentarem-se como um bocadinho estúpidas e
ignorantes.
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