sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Uma consulta médica delirante



Relato feito em primeira mão:

Entrei no consultório do Senhor Professor para uma consulta de gastroenterologia-proctologia (afecção da zona rectal).
Com um aspecto respeitável, beijou-me a mão cerimoniosamente. Estranhei. Sente-se minha Senhora. Sentei-me e contei-lhe ao que ia.
Primeiras perguntas: Gosta de vinagre? E de limão? E de picantes? Não era disto que eu estava à espera...
Durante a consulta fui confrontada com múltiplas perguntas… indicativas de que o meu mal derivava de coisas erradas que eu fazia, nomeadamente tomando medicamentos (receitados por outros clínicos, em especial para controlar a tensão e o colesterol).
Depois passou para a parte alimentar, longamente, sugerindo que havia erros na alimentação. Gosta de chocolate? e várias outras questões visivelmente para saber se eu era viciada em “chocolate”. Depois: Quantas refeições faz por dia? Tem problemas digestivos? Que peso tinha aos 20 anos? etc.
Entretanto foi adiantando que era preciso fazer uma bateria de análises para ver se havia intolerância a alimentos. Custa é 300 euros e não é participado pela ADSE… Indicou o laboratório onde as análises deviam ser feitas e a pessoa a contactar: Diga-lhe que vai da minha parte. Recomendação posterior: Quando as intolerâncias forem identificadas, passa a andar com a lista consigo para evitar o que lhe faz mal.
Perplexa, continuava à espera que o inquérito terminasse e ele viesse em meu socorro. Nada. Mais perguntas: Sente o seu coração? E os pulmões? E os rins? A sua coluna funciona bem? Precisa de jogar ping-pong, praticar ginástica e fazer natação em piscina aquecida. A certa altura apalpou-me o ventre e as costas, tudo muito rápido. As minhas queixas eram outras…
Pedi para que o meu marido entrasse no consultório. Dali a pouco já quase éramos os dois seus potenciais doentes… Também ele deveria fazer, a prazo, as tais análises que custavam 300 euros… Pode é falar com o médico-chefe da ADSE para tentar que a despesa seja comparticipada. E informou, sem que ninguém lhe perguntasse: Eu sou doutorado em Farmacologia por Bruxelas, consultor de várias farmacêuticas… E, vindo do nada, recomendou ao meu marido um livro, em inglês, que ele poderia comprar na FNAC: “Eat Right for your Blood Type”.
Saí do consultório sem ter sido observada na região de interesse e com uma lista de medicamentos, sem perceber nada do que se tinha passado. Mas antes ainda tive direito a mais duas recomendações. Uma: Convém fazer uma análise de metais pesados ao cabelo... e o seu marido também. A outra: Vai tomar um chá de quebra-pedras, salsa fresca e folhas de oliveira (verdes ou secas), feito em 5 litros de água de Monchique que se vende em Massamá
A consulta “particular”, feita no espaço de um hospital de referência, custou a módica quantia de 165 euros! Escusado será dizer que tenho de ir procurar auxílio noutras paragens…

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