O post anterior foi objecto de reacções por parte
de alguns leitores. Umas interessantes, outras nem por isso. Um colega
e amigo enviou-me um e-mail onde, no essencial, exprimia duas ideias: reconhece
a injustiça, mas exonera Sampaio da Nóvoa de responsabilidades. Dizia ele:
(1) «É também compreensível que te sintas magoado pela
injustiça feita ao teu genro no concurso para catedrático de Geologia.»;
(2) «[…] não vejo como possas assacar as culpas a António
Sampaio da Nóvoa, então Reitor da Universidade, no chumbo do teu genro. A sua
participação foi abrir o concurso, nomear o Júri, fazer-se representar como
Presidente do Júri e depois homologar a decisão do Júri. Essas são missões do
Reitor.»
O facto de se tratar do “meu genro” não tem relevância
digna de realce. A vantagem é que fiquei a conhecer o processo “por dentro”. Se
conhecesse em pormenor outras situações semelhantes, julgo que também as
denunciaria com o mesmo vigor.
Contrariamente ao meu colega e amigo, eu vejo razões para
assacar culpas a Sampaio da Nóvoa no chumbo do meu genro.
Comecemos por dois factos menos relevantes, mas com um
certo significado:
(a) não me parece normal que Sampaio da Nóvoa tenha assinado
em plenas férias do Verão (02.Agosto.2011) um aviso de abertura de um concurso para
professor catedrático (aviso a que se pretendia dar ampla divulgação, pelo menos
segundo o estipulado no próprio Edital);
(b) não me parece normal que na composição de um júri
para a especialidade de Geodinâmica Externa não tenha entrado nenhum
especialista em Geodinâmica.
Mas a questão central está na homologação da decisão do júri do concurso. E qual foi a decisão
crucial?
No início, diz o Edital de abertura do concurso:
«Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade
de Lisboa: Faz saber que […] se encontra aberto concurso para recrutamento de
um posto de trabalho de Professor Catedrático, do Departamento de Geologia, na
área científica de Geologia, especialidade de Geodinâmica Externa.»
Mais adiante, o Edital refere-se à avaliação em mérito
absoluto:
«Encontrando-se as candidaturas devidamente instruídas (…),
a admissão em mérito absoluto dos candidatos dependerá da posse de currículo
global que o júri considere revestir mérito científico compatível com a área ou
áreas disciplinares para que foi aberto o concurso.»
Ora, consultando o currículo científico do candidato (ver aqui), constata-se que, entre 2001 e 2011, Fernando Ornelas Marques (co)publicou
quase meia centena de artigos em prestigiadas revistas internacionais (International Peer Reviewed Publications), como Earth and Planetary Science Letters,
Environmental Geology, Geological Society of America Memoir, Geology,
Geophysical Journal International, Geophysical Research Letters, Journal of
Applied Geophysics, Journal of Geophysical Research, Journal of Geoscience
Education, Journal of Structural Geology, Physics and Chemistry of the Earth, Tectonics e Tectonophysics.
[Reportada a actualização a 11.Julho.2015, o CV de Fernando
Ornelas Marques compreende 78 artigos no ISI ResearcherID, 77 dos quais com 872
citações e o parâmetro h-index igual a 17. Haverá actualmente algum geólogo
português que se lhe compare?]
É nestas circunstâncias que o júri do concurso,
na sua apreciação, concluiu que o currículo do candidato não tinha
mérito científico compatível com a área disciplinar (Geologia...) para que foi
aberto o concurso. Em consequência, chumbou liminarmente o candidato em mérito
absoluto! Alguém, algures, deverá ter cogitado em provérbios populares como corta-se o mal pela raiz ou mata-se o bicho, acaba-se a peçonha… Só
que a verdade é incómoda, não se dá bem com manivérsias.
Com a mesma perplexidade de sempre, continuo a
interrogar-me: Que se passou para o júri conseguir a “proeza” de reprovar
Fernando Ornelas Marques em mérito absoluto?! Como é possível que o júri tenha produzido
uma tal aberração?! Que dizer de um júri que comete um tal desvario?!
Pois bem, Sampaio
da Nóvoa homologou a decisão do júri, o que significa que a aprovou, que a
reconheceu oficialmente como legítima!
Dito isto, para mim a conclusão só pode ser uma: A responsabilidade última pela malfeitoria feita ao “meu genro” é do
Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa à
data dos factos. Ponto.
O meu colega e amigo ainda diz, a terminar o e-mail:
«De todos os nomes até agora aventados [como candidatos presidenciais, suponho], António
Sampaio da Nóvoa é o que mais me satisfaz.»
Aproveito a oportunidade para afirmar que não me move
qualquer motivação de natureza política. Esta minha “luta” vem de há três anos,
quando ainda não se falava do que se fala hoje. Só voltei a "mexer" no assunto agora porque Sampaio da Nóvoa decidiu apresentar-se como candidato presidencial e, portanto, é do
interesse colectivo dos portugueses saber “que decisões tomou, grandes ou
pequenas, na medida em que elas contribuam para traçar o perfil de quem se
propõe ocupar o cargo mais elevado da nação.”