Carteiristas há muitos, os propriamente ditos e os outros. Os propriamente ditos são os carteiristas encartados, digamos assim, como os que operam em Lisboa, sobretudo em áreas frequentadas por turistas.
Dizia um jornal há dias que um
carteirista de 55 anos havia sido presente ao DIAP 41 vezes desde 1999. Este é
um bom exemplo de carteirista encartado, embora não se saiba se pertence a
alguma Associação Nacional de Carteiristas, com cartão e tudo, ou se a
profissão consta do bilhete de identidade.
Mais dizia a notícia que o homem
não ofereceu resistência no momento da detenção – o que, de acordo com a PSP,
revelava “maturidade criminosa” – e foi entregue ao Estabelecimento Prisional
de Lisboa para cumprir uma pena de prisão em “regime de dias livres”. Que quer
isto dizer? Significa que se apresentava voluntariamente todas as sextas-feiras
à noite e ficava encarcerado até à manhã da segunda-feira seguinte. Porquê?
Porque o juiz entendeu que o crime cometido não fora especialmente gravoso, e
não existiam motivos para que o condenado ficasse longe da família e se sujeitasse
a perder o emprego. Ora aqui está uma condenação humanizada: o juiz não quis que
o carteirista perdesse o emprego e zelou pelo bem-estar familiar.
Os carteiristas encartados são
perigosos para o País? Verdadeiramente, não. É certo que causam incómodos
pessoais e não são publicidade que se recomende junto dos turistas, mas não são
especialmente perigosos. Roubam uma carteirita aqui, outra ali, às vezes até
com pouco dinheiro, que a crise a todos afecta. Numa palavra, procuram apenas ganhar
a vidinha.
O problema para o País não são os
carteiristas propriamente ditos, são os outros. Pelo que consta nos órgãos de
comunicação social, esses outros usam gravatas caras e fatos de estilo; movimentam-se
em instituições onde está em jogo dinheiro graúdo; conhecem bem os paraísos
fiscais; fazem falcatruas, provocam desfalques e rombos bancários; promovem
parcerias ruinosas para o Estado. Aparentemente são difíceis de identificar, pelo
que – oh justiça suprema! – andam por aí à solta, sem cuidados ou receios de
maior.
E quem paga as malfeitorias desses
outros carteiristas? Somos todos nós, claro, os cidadãos comuns. A crise em que
o País se encontra não aconteceu por acaso. Dizem-nos que a causa do “buraco” é
os portugueses terem andado a gastar acima das suas possibilidades. A verdade é
outra, apesar de alguém do DCIAP nos ter dito, “olhos nos olhos”, que “os
nossos dirigentes não são corruptos”.
Agora, ao fim de tantos
ajustamentos, optimismos e previsões falhadas, vêm dizer-nos que é necessário “refundar”
umas coisas… Será desta que vamos mesmo ao “fundo”? Talvez não, calma. Não foi
um distinto banqueiro que afirmou há dias que o povo aguenta ainda mais
austeridade? Então…
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