terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Raríssimo?


João Miguel Tavares (PÚBLICO, 12.Dez.2017)

A reportagem de Ana Leal sobre a presidente da associação Raríssimas deixou o país de queixo caído, e por boas razões. Nada é mais perturbante do que ver alguém a desbaratar dinheiro que é posto ao serviço de uma boa causa. Há um excesso absolutamente caricatural nos abusos de Paula Brito e Costa e na forma como punha e dispunha de pessoas e bens na associação que fundou: usou o cartão de crédito da Raríssimas em vestidos e gambas; exigia o pagamento de quilómetros para se deslocar de casa para o trabalho num carro que nem sequer era seu; empregou o marido e o filho; assumia publicamente que o filho seria “o herdeiro” da casa; impunha especiais deferências aos seus funcionários (a história de o pessoal ter de se levantar das cadeiras sempre que ela entrava ou saía do gabinete é digna de telenovela venezuelana). Tudo isto compõe um retrato catastrófico de alguém que se convenceu de tal forma do mérito do seu trabalho (e esse mérito é inegável), que adquiriu tiques ditatoriais. [...]


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