Salman Rushdie
fala a Paulo Moura (PÚBLICO) sobre o futuro dos livros.
Os livros vão
sobreviver?
Quando este livro
[Dois Anos, Oito Meses e Vinte e Oito Noites] saiu na América, um dos lugares onde fui falar sobre ele foi o
quartel-general da Google, em Mountain View, na Califórnia. Era uma audiência
enorme, de jovens “techies” brilhantes. A sua concepção do mundo resume-se ao
código. Eu disse-lhes: reparem que esta coisa do livro é na verdade uma peça de
hardware muito sofisticada. Se deixarem cair um computador no banho,
fica destruído. Um livro, basta pô-lo a secar. Se deixares cair o computador na
praia, não fica em muito bom estado. Um livro, basta sacudir a areia. E reparem
na velocidade com que as novas tecnologias ficam obsoletas. Quem tem ainda uma
máquina de fax? Os documentos de fax eram revestidos de uma substância que faz
apagar os textos em alguns anos. Os faxes mais antigos já estão ilegíveis. Mas
conseguimos ler um livro com mil anos. E que me dizem da disquete? Quem tiver
uma colecção delas não conseguirá mais ler o seu conteúdo.
Eles ouviram,
e depois voltaram todos aos computadores?
Acho que ficaram
em choque. Perguntei-lhes para avaliarem objectivamente: o computador ou o
livro, qual das tecnologias é mais sofisticada? Ficaram a pensar.
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