quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ir ao mercado

Meu artigo publicado hoje no semanário O MIRANTE

Quando eu era miúdo e vivia na Chamusca, a expressão “ir ao mercado” tinha um significado preciso. “Ir ao mercado” significava exactamente “ir à praça”, um espaço que ficava (e fica) ao pé da Igreja Matriz, onde se podia comprar couves, fruta, peixe do rio, enfim mantimentos para o sustento da família. Ir ao mercado era também a oportunidade de as mulheres saírem de casa, de porem a conversa em dia.
Actualmente, “ir ao mercado” perdeu grande parte daquele significado. Eu diria mesmo que é uma expressão que quase caiu em desuso, porque a praça está às moscas, com apenas meia dúzia de bancas tristes. Perdeu a vitalidade, o ruído e o colorido de outrora. Hoje não se vai ao mercado (a pé), vai-se ao supermercado (de carro)...
No campo desportivo, “ir ao mercado” tem ainda outro significado. Quando dirigentes de clubes ou treinadores de futebol dizem pretender “ir ao mercado” estão a dizer que querem comprar novos jogadores, estrangeiros eventualmente. Nestas idas ao mercado, como se sabe, são movimentados muitos milhões de euros. O que não se percebe muito bem é que clubes altamente endividados, com enormes dívidas à banca e ao fisco, quando não aos próprios jogadores, queiram ir ao mercado, mas vão.
A moda actual é mesmo “ir ao mercado”… pedir dinheiro emprestado! Com o espectro da bancarrota no horizonte, veio a crise e o chamado programa de ajustamento da troika. Durante um tempo não se pôde ir ao mercado. Andava toda a gente triste, que maçada, não se pode ir ao mercado… Eis senão quando o incontornável ministro das finanças veio anunciar: Combinámos umas coisas com a Irlanda numa reunião em Bruxelas e… amanhã vamos ao mercado!
Fomos ao mercado e, diz-se, com grande sucesso. E diz-se mais: esta operação abriu-nos a porta para ir mais vezes ao mercado. Houve comentários de regozijo e suspiros de alívio. O pior da crise já passou, previram os mais optimistas. Mas o inefável primeiro-ministro veio logo pôr água na fervura: Calma aí, isto é apenas um ponto de partida, não é um ponto de chegada. Jogo de palavras para disfarçar a auto-satisfação pelo “êxito”?
Muito bem, fomos ao mercado. E depois? Qual a vantagem do regresso aos mercados? Quais as vantagens para a população em geral? Vamos continuar a pagar dívida e juros pedindo mais dinheiro emprestado? A ideia é continuar a empurrar a dívida para a frente com a barriga? Não foi essa política do anterior governo que precipitou a queda no atoleiro em que estamos atascados? Estas perguntas são porventura tolas, mas eu sou um mero escrevedor com dúvidas... que nada sabe de economia.

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