terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Lanche do Senhor Verde, no J. Infância do Vimeiro


Artigo da Educadora de Infância Helena Martinho publicado em
Cadernos de Educação de Infância, n.º 96 (Maio/Agosto.2012)


Temos de convir que encontrar um chapéu de coco amarelo no meio de um arbusto… três chapéus-de-chuva pendurados numa árvore despida de folhas… uma chave azul suspensa do candeeiro do restaurante… ou uma gravata verde no espelho retrovisor da camioneta, não é muito normal… Pois as crianças do Jardim de Infância do Vimeiro descobriram todos estes “objectos mágicos”, e ainda outros mais, entre Setembro e Dezembro, nos locais mais insólitos e inesperados por onde iam circulando.
As teorias explicativas choviam…
- Se calhar crescem flores em forma de chapéus!
- Se calhar foi alguém que saltou de paraquedas e perdeu o chapéu!
- Ou foi um macaco… um macaco é que devia ser porque eles penduram-se com os pés para o ar e com a cabeça para baixo e perdem os chapéus!...
- Será que esta árvore agora dá chapéus-de-chuva? Ou foi um senhor invisível com asas que veio a voar e deixou aqui o chapéu?
- Era uma girafa com uma chave pendurada ao pescoço e depois veio muito vento e a chave voou e ficou ali pendurada.
- Um passarinho estava com uma gravata e deixou ali…
Por fim, os objectos já eram tantos que se instalou a ideia do negócio:
- Olha…se aparecerem muitos chapéus, vendemos aos passarinhos para fazerem ninhos!
- Qualquer dia fazemos uma loja!
- Eu vendo as chaves, o Tomás e o Diogo vendem os chapéus, a Laura e o Afonso vendem as gravatas…
Mas… antes que abrissem a tal loja, chegou o dia de desvendar o mistério e de responder a todas as interrogações!
Mas recuemos um pouco…
Tudo isto se iniciou em Maio… no momento em que conheci o autor espanhol Javier Sáez Castán, no âmbito do IX Encontro de Literatura Infanto-Juvenil de Pombal.
Por essa ocasião apresentou uma Mostra de Memórias, Ilustrações e Objectos que incluía os originais da ilustração do seu livro “o lanche do senhor verde”, pintados a óleo sobre placas de madeira. Um irresistível convite para a entrada num mundo mágico e misterioso construído em 2007 e apenas editado em Portugal pela Orfeu Negro no Verão de 2011.
Apaixonei-me pelo ambiente do livro, a cor, o enigma, as claras referências ao realismo poético de Magritte, as irresistíveis figuras masculinas de fato e chapéu de coco, alguns símbolos de Alice no país das maravilhas…
Desde logo nasceu a ideia de partir para a descoberta e animação desta obra. Como fazê-lo? De forma enigmática como o próprio enredo propunha, e tirando partido da depurada e elegante estética da ilustração… mas o livro, esse, seria o último a aparecer…
Assim, com a colaboração das famílias, cúmplices desde a primeira hora neste Projecto, recolhi e construi os vinte e quatro “objectos mágicos” do livro: chaves, gravatas, chapéus de coco e chapéus-de-chuva de seis cores. E foram estes objectos que as crianças tinham encontrando durante meses…
Quando já não havia mais teorias para explicar este fenómeno e se preparavam para ”vender” tudo… chegou a festa de Natal e a resolução do enigma.
Seis pais assumiram os papéis dos senhores-cor do livro do Javier numa animação multimédia que envolveu: projecção de imagens em tela gigante, música, teatro e sombras, e uma inesquecível e muito divertida coreografia final que coroou de êxito esta surpresa natalícia. As crianças não cabiam em si de espantadas por, de repente, terem tido acesso à explicação que faltava. Especialmente emocionados estavam os filhos dos senhores amarelo, azul, púrpura, castanho, preto e verde por terem acreditado no que lhes haviam dito em casa: por razões de trabalho, os pais não poderiam estar presentes na festa…
Após esta animação, um grupo de pais e mães músicos apresentaram uma canção com o texto adaptado à história e… finalmente… a prenda de Natal para os meninos foi… o livro “o lanche do senhor verde”… Curiosamente, os filhos dos senhores-cor não admitem que sejam as mães a partilhar com eles o livro…
Impossível ficar indiferente a esta obra. Aceitem então o convite para lanchar com o Senhor Verde, numa inesperada clareira luminosa e colorida onde não falta na mesa o bule do chá e contamos ver chegar, a qualquer momento, o chapeleiro maluco.

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