terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De mãos dadas

Reencontrei a Isabel há dias. Estar com ela, embora fortuitamente, sempre me enriquece. Aliada à inteligência, tem uma visão ampla do mundo e dos seus problemas. É humana, profunda e sensível. Nunca casou. Os sobrinhos são os "seus" filhos. Nesse dia falou-se deles, e dos filhos em geral. Também ela acentua os cuidados a que têm direito e vê na Mãe o papel fundamental.

Lembra um episódio vivido há muitos anos em casa do irmão, oficial da marinha mercante, quase sempre ausente. A cunhada, médica de profissão e absorvida pela carreira, trazia invariavelmente trabalho para casa. Fechava-se no escritório para não a perturbarem. Colados à porta, aninhavam-se os filhos, implorando à mãe que os deixasse entrar, mas a benesse era-lhes negada. Foi sempre assim, diz-me Isabel. Bens materiais que sobejaram em detrimento da ternura que faltou. Hoje, são adultos "perdidos" e sem perspectivas.

Mas ela tem bonitas recordações do tempo de menina, dos pais já falecidos e do apoio que nunca lhe foi regateado. Emocionada, relembra com saudade os passeios que dava com a Mãe, de mãos dadas. No gesto singelo, o mundo todo, sinónimo perfeito da segurança que ainda hoje sente.

Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho 
publicada no jornal O MIRANTE (Dez.1989)

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