O texto que se segue foi escrito por Carlos Santos
Oliveira no seu blogue Corações da
Chamusca (ver aqui). É a introdução que precede uma entrevista que vale a pena ler para compreender por
que a intitula Nazaré Santos, um coração
sem fronteiras (ver aqui).
«Maria da Nazaré Gameiro Alves
dos Santos nasceu na freguesia da Chamusca em 06/07/1940. Foi uma
criança e uma jovem dedicada e envolvida socialmente. Formou um Grupo Coral, um
Rancho Folclórico e deu aulas de música, sempre com o objectivo de ensinar e
mobilizar pessoas para a intervenção cultural e social.
Sentiu-se na necessidade de deixar de estudar para cuidar
da mãe que estava muito doente. Situação que duraria 10 anos. Mas após o
falecimento daquela, com uma força de vontade e motivação extraordinárias,
voltaria novamente a prosseguir os estudos e a desenvolver a vocação de ser
enfermeira.
Frequentou a Escola Superior de Enfermagem de Santarém,
cujo curso pagou com o seu trabalho na agricultura e fazendo malhas, e aos 42
anos viria finalmente a formar-se. No Centro de Saúde da Chamusca, onde foi
colocada, para além de enfermeira, foi membro da Direcção e uma Amiga a tempo
inteiro, que percorria todo o Concelho a prestar cuidados de saúde a quem deles
carecia, sem receber dinheiro por qualquer hora extraordinária ou subsídios
para as deslocações que fazia usando o seu próprio carro.
Alguns anos depois, aos 49 anos, percebeu que a sua
dádiva podia ainda ser maior e dedicou-se à AMI (Assistência Médica
Internacional). Fez 19 missões no
estrangeiro. Esteve na Guiné,
em Cabo Verde, em S. Tomé, em Angola, em Timor, no Ruanda e na Macedónia,
no Kosovo.
Correu perigo de vida, encarou os olhos da morte, mas
andou sempre pelo meio da violência, do caos, do desamparo e do sofrimento com
o coração sangrando de humildade, de humanidade e de Amor.
Em África sofreu paludismo, febres várias e uma doença
que a obrigou à reforma. Apesar do seu estado de saúde debilitado, em 2003,
ainda foi uma das pessoas mais empenhadas no auxílio às populações atingidas
pelo fogo que queimou casas e consumiu vidas no concelho da Chamusca.
Obteve tributos e distinções, o maior de todos o Prémio
Mulher Activa 2002 no valor de 35.000€. Dinheiro que, ainda no próprio estúdio
onde se realizou o programa de televisão e no qual foi agraciada, num gesto
magnífico de altruísmo, de humanidade e de generosidade doou para os órfãos de
Angola. Pois, como a mesma refere: “o dinheiro não era meu, pertencia a todos
os pobres com quem trabalhei. Sem eles o prémio nunca me seria atribuído.”
No momento actual continua a intervir socialmente,
ajudando algumas pessoas mais carenciadas da Chamusca, porque a sua vida só tem
significado “como uma missão de ajuda ao próximo.”
Num mundo sem valores, onde o egoísmo, a ganância e o
materialismo destroem a humanidade, são exemplos como o desta Mulher, que nos fazem reflectir sobre
o porquê da nossa própria existência e se somos verdadeiramente humanos?
Nazaré Santos, com a
sua humildade, dedicação, vocação profissional e riqueza sentimental, desbravou
caminhos, estabeleceu pontes de progresso e de Amizade, ajudou a sarar feridas,
a mitigar a dor, a fazer nascer as sementes da esperança. Com ela, o mundo
órfão de Amor, encontrou uma Mãe fervorosa de paixão, que deu
a sua vida para salvar a dos seus filhos.
Sinto por ela uma enorme admiração e em meu nome e no de
tantos outras pessoas, apenas posso agradecer-lhe por ter tornado o nosso Mundo
melhor.
Obrigado pela dádiva da sua
Vida!»