Meu artigo publicado ontem no semanário O MIRANTE
Julgo que toda a gente gosta de fazer previsões ou de
beneficiar das previsões de outrem. Todavia, previsões há muitas e nem todas
são credíveis. Uma coisa é um astrónomo fazer a previsão de um eclipse que
acontecerá no sistema solar daqui a uns anos, outra é um astrólogo “prever” uma
melhoria das finanças pessoais na próxima semana, com base na data de
nascimento...
Que esperamos nós das previsões económicas feitas pelos
governantes e pela “troika”? Esperamos certamente que sejam previsões mais do
lado da astronomia… Ora não é isso que se tem verificado em Portugal desde há
dois anos. Eu bem sei que a economia não é uma ciência exacta, mas há limites
para os erros de avaliação, certo?
Os resultados da 7.ª avaliação do “programa de
ajustamento” foram agora conhecidos. Perante o falhanço sistemático das sucessivas
previsões, é caso para duvidar que se trate apenas de incompetência. Talvez
tenha razão a D. Joaquina, 91 anos, 230 euros de reforma, que disse recentemente a'O MIRANTE (Ano XXV,
N.º 1081, 14.Março.2013, pág.16): «Sempre
achei que um dia os donos do dinheiro iriam voltar atrás e vingar-se do povo».
Falando apenas do indicador económico mais significativo
para as pessoas, o desemprego, uma pergunta ocorre: Como é possível haver
diferenças tão brutais entre as previsões e os valores reais? Em 2011, as
luminárias previram que o máximo do desemprego seria atingido em 2012, mas não,
agora é em 2014; pior do que isso, previram que o máximo do desemprego seria
12,4%, mas não, agora é 18,5% (!), o que corresponde a mais 330 mil pessoas
desempregadas. Olhando para o rosto hirto e distante do ministro das Finanças
ao dizer o que disse, quase não nos surpreenderia que tivesse dito que são
“apenas” mais 330 mil desempregados.
Perante tão crassos erros, como é que ainda têm o arrojo
de fazer previsões para 2015 e 2016? Estarão mesmo à espera que os portugueses
acreditem no que dizem? Ou será que eles próprios não acreditam no que nos
estão a dizer?
O primeiro-ministro veio afirmar a seguir que “previsões são previsões”, o que toda a gente
sabe, acrescentando que o caminho passa por “aproveitar estas previsões para trabalhar no sentido de evitar que elas
possam ser uma certeza”, que é precisamente aquilo que não tem sido feito.
Finalmente, deixo-vos com uma passagem
da “conversa” do ministro das Finanças: «A
revisão dos limites foi calibrada de forma a garantir uma constância na
persistência do esforço de consolidação orçamental ao longo de tempo, de forma
a conciliar os efeitos do ajustamento com a necessidade de ancorar a dívida
pública e do financiamento dessa dívida.» O leitor percebeu? Não? Não se
preocupe, o ministro estava falando para inglês ver.
PS – Este artigo foi enviado por email para O MIRANTE no domingo dia 17 de Março às 09h38, antes portanto de o Prof.
Marcelo Rebelo de Sousa, no jornal da noite da TVI, se ter referido às previsões do ministro Vítor Gaspar como parecendo ser de um astrólogo... Fica aqui o registo, para memória futura.
Ilustração: http://carpinteira.blogspot.pt